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" "Carpe Diem" quer dizer "colha o dia". Colha o dia como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre. A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente."

Rubem Alves

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sábado, 13 de setembro de 2008

Lelê às margens plácidas


Neste domingo, o meu avô fez duas coisas legais: uma foi que ele me deu uma espada de Darth Vader (que tem uma luz vermelha que é que nem se fosse um raio laser). E a outra foi que ele me levou para no Museu do Ipiranga, em São Paulo.


Lá tem um monte de coisa legal, mas do que eu gostei mais foi de um quadro que é bem grandão. Todo mundo estava em cima de uns cavalos, com uns uniformes brancos e uns capacetes com uns trecos vermelhos.

O meu avô estava começando a me explicar que aquilo ali era o tal grito do Ipiranga quando eu ouvi um barulho estranho.

“Escutou isso, vô?”

“Escutei. Acho que o ar condicionado está com defeito”, ele respondeu.
Mas aí eu senti um cheiro ruim e falei. “Que nada! Foi o senhor que soltou um pum!”

“Eu?! Imagina, Lelê... Você está ouvindo coisas.”

“Ouvindo, não, cheirando!”, eu respondi.

Então aquele fedorzão entrou pelo meu nariz e eu comecei a ficar meio tonto. Até fechei os olhos para ver se passava. Só que, quando eu abri eles de novo, eu já não estava no museu. Estava montado num burrico. E em cima de outro jumento, ali do meu lado, tinha um homem que eu nunca tinha visto antes.

“Quem é você, eu perguntei?”

“Francisco Gomes da Silva, mas pode me chamar de Chalaça.”

“Eu sou o Leocádio, mas pode me chamar de Lelê.”

“Muito bem, senhor Lelê.”
“Para onde a gente está indo?”

“Para São Paulo. É só seguir este riacho chamado Ipiranga que chegaremos lá.”

“Não era mais rápido pegar um ônibus?”

“Ônibus? Nunca ouvi falar.”

“Nunca? Xi..., já vi tudo... Em quando é que a gente está?”

“Em quando? Ora, no dia sete de setembro de 1822.”

“Caramba, dessa vez o meu avô caprichou no pum de pirlimpimpim!”

“No o quê?”

“É um pum mágico que o meu avô..., ah, deixa pra lá.”

Aí eu olhei em volta e vi que tinha uma turma montada nuns outros burricos, todo mundo com umas roupas marrons, bem feias. E do lado do Chalaça tinha um cara com uma roupa melhorzinha. Ele usava uma barba preta e fazia uma cara estranha, igual que nem eu faço quando estou com dor de barriga. Então o Chalaça perguntou para ele: “O jantar de ontem não vos caiu bem, Dom Pedro?”

“Aquela carne de porco com feijões pretos está a me matar”, o cara respondeu. “Acho que vou aos matos aliviar-me.”

Então ele desceu do burrico e entrou atrás duns arbustos que ficavam na beira do riacho.
Todo mundo parou para esperar Dom Pedro. Mas aí, enquanto ele estava fazendo alguma coisa lá no mato, chegou um cara correndo num cavalo. Ele foi até o Chalaça e disse:

“Sou o mensageiro Paulo Bregaro e trago cartas urgentíssimas para o Príncipe-Regente.”

“Da parte de quem?”

“Da princesa Dona Leopoldina e de José Bonifácio.”

Nessa mesma hora apareceu D.Pedro arrumando as calças, e aí foi ver o que eram aquelas cartas.

Depois de ler tudo, ele fez uma cara de bravo e jogou as cartas no chão.

“O que dizem estas folhas, senhor?”, perguntou o Chalaça.

“Elas dão contas das últimas decisões da corte portuguesa em relação ao Brasil. Querem me destituir do cargo de príncipe-regente, tirar-me o poder de nomear ministros e ainda me ameaçam, dizendo que há uma tropa de sete mil praças a caminho.”

“E o que o senhor vai fazer?”, eu perguntei.

“O que tem que ser feito”, ele respondeu. “Vou obedecer ao rei, meu pai, e voltar para Portugal.”
Aí eu pensei que, se ele não proclamasse a independência, não ia mais ter feriado no dia sete de setembro. Então eu disse: “De jeito nenhum! O senhor tem que proclamar a independência do Brasil! Chega de obedecer o seu pai. Você já é grande demais!”

Ele pensou um pouco e disse: “Tens razão!”. Daí ele subiu no seu jumento, foi até o meio do pessoal, arrancou uns laços que estavam na roupa dele e gritou:

“Laços fora, soldados!”.

Todo mundo arrancou os laços da roupa. Eu não tinha nenhum, mas para não ficar chato eu arranquei um botão da minha camisa.

Então D.Pedro fez um discurso que foi meio assim:

"Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro promover a liberdade do Brasil!"

Depois ele se virou para o lado em que eu estava, apontou a espada para o céu e gritou:"Independência ou morte!"

Todo mundo ficou olhando para ele sem saber o que fazer, mas aí, como eu já tinha visto aquele quadro no museu, eu levantei a minha espada de Darth Vader e gritei: “Independência ou morte!"

E aí todo mundo me imitou, levantando a espada e gritando: “Independência ou morte!”

Foi maior legal! Pena que justo nessa hora passou o efeito do pum de pirlimpimpim e eu voltei para o museu.

O meu avô, que não percebeu nada, continuava falando: “... e é por isso que o quadro do Pedro Américo é tão importante, por mostrar como foi o Grito do Ipiranga.”

“É, mas não foi bem assim, não”, eu disse. “O pessoal estava nuns burricos, a roupa não era tão bonita e o Dom Pedro estava com dor de barriga.”

“Bom, tem uns historiadores que falam isso mesmo.”

“E também tinha um garoto com uma espada de Darth Vader.”

“Como é que é?”, ele perguntou.

“Nada, nada..”

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá, Sueli! Desculpe pela demora em voltar ao seu espaço, mas os tempos realmente andam bem corridos! É com grande prazer que observo a sua "evolução blogueira" aqui. A página está muito bem estruturada e com dicas muito interessantes! Parabéns! O blog do Lelê mesmo é do UOL e destacado com freqüência na nossa home...continue assim e grande sucesso a você!

Edson Lovatto, vulgo "Junior" ou "filho da Marilsa"

Carlos Souza disse...

Adorei seu blog professora. Vou usar essa historinha da independência com meus alunos.
Abraços
Carlos - prof de história