O primeiro de abril é conhecido popularmente como o Dia da Mentira, e isso se enraizou no imaginário popular de tal forma que as chamadas pegadinhas, nesse dia, são freqüentes. O que você pensaria se lhe dissesse que o Congresso Nacional foi fechado, as garantias constitucionais e individuais foram suspensas, mandatos foram caçados e direitos políticos suspensos, o presidente será eleito indiretamente e a imprensa está sendo fortemente censurada? Que grande mentira! Você me afirmaria com toda certeza. Mas coincidência ou não, foi o que aconteceu na história recente brasileira. Estou me referindo ao Golpe Militar de 64, deflagrado na noite de 31 e efetivado em primeiro de abril de 1964, levando o Brasil a suportar aproximadamente 21 anos de Ditadura Militar. No contexto internacional, da época, o nazismo alemão, o fascismo italiano e o militarismo japonês haviam sido derrotados pelos aliados. Logo, as forças fascistas, que cresciam no Brasil, em particular dentro do exército, perderam espaço para o conservadorismo “democrático” que a burguesia tradicional tanto desejava manter. Além disso, União Soviética e Estados Unidos saíram vitoriosos da guerra, cada um, porém, seguindo um caminho diferente do outro. Os EUA, defendendo a propriedade, o capitalismo e a liberdade como balizas fundamentais do crescimento econômica. Já a ex-URSS tinha sua ideologia solidificada no comunismo, buscando a horizontalidade nas relações econômicas e sociais, algo totalmente diverso do que o american way of life pregaria a partir da década de 50. Isto fez com que o mundo se dividisse, ao menos imaginariamente, em dois blocos: uns países do lado dos Estados Unidos e seus dogmas capitalistas e outros, de maior proximidade ao poderio comunista da então União Soviética. E o Brasil, com seu papel estratégico na América do Sul, tinha a obrigação de se posicionar. Assim, Washington fez de tudo para trazer os brasileiros para junto de suas convicções e anseios. A campanha do comunismo como o monstro e causa de todos os males estava colocada e foi levada à exaustão pela mídia durante aqueles anos, apoiada por políticos e militares. Isso tanto é verdade e solidificou-se de tal maneira que no Brasil o medo dos ideais igualitários se tornou algo por demais assustador. De tão arraigado, qualquer um que cismar em falar de comunismo já será visto de forma estigmatizada e julgada sob pré-conceitos capitalistas ocidentais desprovidos de reflexão dialética, mesmo hoje em dia, com supostos ares democráticos nos embalando. O presidente João Goulart implantou as reformas de base que alterariam as relações econômicas e sociais no país, levando a uma mobilização das massas trabalhadoras em torno do projeto. Isso fez com que o empresariado, parte da Igreja Católica, a oficialidade militar e os partidos de oposição, liderados pela União Democrática Nacional (UDN) e pelo Partido Social Democrático (PSD), a denunciar a preparação de um golpe comunista, com a participação do presidente. Além disso, responsabilizam-no pela carestia e pelo desabastecimento. No dia 13 de março de 1964, o governo promove grande comício em frente da estação ferroviária Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em favor das reformas de base. Os conservadores reagem com uma manifestação em São Paulo, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em 19 de março. A tensão cresce. No dia 31 de março, tropas saídas de Minas Gerais e São Paulo avançam sobre o Rio, onde o governo federal conta com o apoio de setores importantes da oficialidade e das Forças Armadas. Para evitar a guerra civil, Goulart abandona o país e refugia-se no Uruguai. No dia 1º de abril, o Congresso Nacional declara a vacância da Presidência. Os comandantes militares assumem o poder. A partir de então o Brasil passará por um extenso período de violenta repressão, que durou aproximadamente 21 anos. O período caracterizou-se pela falta de democracia, supressão de direitos constitucionais, censura, perseguição política, tortura, desaparecimentos e repressão aos que eram contra o regime militar. Portanto, após tomar consciência dessa página triste da História brasileira, não consigo receber o primeiro de abril como simplesmente o Dia da Mentira e, muito menos, sem realizar reflexões ou mesmo questionamentos acerca do Regime Militar e suas conseqüências para a época e, principalmente, para a atualidade, sejam elas na área econômica, política, cultural ou social.
Fonte: http://br.geocities.com/genilsonnolasco/2artigos.html > acesso em 01/04/2008.
Um comentário:
Oi professora! Aqui é Victória do ciclo III final "C".
Estou adorando as curiosidades e textos que você está postando no blog. Aposto que estão sendo úteis em trabalhos!
Logo logo venho aqui deixar mais comentários. Continue assim!
Beijos.
Postar um comentário